Carta de D. Pedro I a seu pai, D. João VI
Carta do Imperador do Brasil, D. Pedro I, a seu Augusto Pai, o Senhor D. João VI, Rei de Portugal
Meu Pay
O dever de filho, e o amor que como homem consagro a Vossa Magestade me instão a que pondo de parte a coroa que sobre a minha cabeça foi colocada pella generoza Nação Brazileira vá por este modo fazer constar a Vossa Magestade o desgosto que tive quando soube dos desatinos do Mano Miguel, e o quanto lhe dezaprovo seu proceder, e se he verdade, segundo se diz, que ele fora traidor a Vossa Magestade já de hoje em diante deixa de ser mais meu irmão, pois um bom filho jamais pode amar traidores (...) Cumpre a Vossa Magestade enquanto he tempo salvar-se por este avizo, e a mim aviza-lo. O reconhecimento [da independência do Brasil] será feito ou mais tarde ou mais cedo, pois os Brazileiros, e eu seu Imperador não mudamos de temção, e antes morreremos com a espada na mão huma vez que juramos Independência ou Morte. Não pense Vossa Magestade que o que lhe digo he por aterrar, não meu Pay (examine se he verdade) he para que Vossa Magestade conheça que tem hum filho, que o deseja livrar dos punhaes dos assassinos que o rodeão. Eu como Imperador, e Vossa Magestade como Rey estamos em guerra, devemos sustentar os Direitos das Independentes Nações de que somos chefes; mas eu como seu filho e V. M. como Pay devemo-nos amar (...) V. M. perdoará o que digo tão francamente, mas este sempre foi he e hade ser o genio d' este que he de V. M. filho affectuoso e que como tal lhe beija a Sua Real Mão
Pedro
Esta carta refere-se ao período da restauração do absolutismo em Portugal por D. Miguel. A 30 de Abril de 1824, o irmão de D. Pedro chefiou um levantamento militar conhecido por Abrilada, sequestrando o próprio pai, o rei D. João VI, no seu palácio, e criando um clima de terror, especialmente em Lisboa, mandando prender algumas centenas de moderados. Após estes acontecimentos, foram tentadas a pacificação e a conciliação da família portuguesa mediante um indulto datado de Junho de 1825 para os crimes políticos. Surgiu depois a carta-patente de 13 de Maio de 1825, reiterada pelo tratado do Rio de Janeiro de 19 de Agosto, ratificado pela carta de lei de 15 de Novembro do mesmo ano, que reconhecia a independência do Brasil e o título de imperador a D. Pedro.
Meu Pay
O dever de filho, e o amor que como homem consagro a Vossa Magestade me instão a que pondo de parte a coroa que sobre a minha cabeça foi colocada pella generoza Nação Brazileira vá por este modo fazer constar a Vossa Magestade o desgosto que tive quando soube dos desatinos do Mano Miguel, e o quanto lhe dezaprovo seu proceder, e se he verdade, segundo se diz, que ele fora traidor a Vossa Magestade já de hoje em diante deixa de ser mais meu irmão, pois um bom filho jamais pode amar traidores (...) Cumpre a Vossa Magestade enquanto he tempo salvar-se por este avizo, e a mim aviza-lo. O reconhecimento [da independência do Brasil] será feito ou mais tarde ou mais cedo, pois os Brazileiros, e eu seu Imperador não mudamos de temção, e antes morreremos com a espada na mão huma vez que juramos Independência ou Morte. Não pense Vossa Magestade que o que lhe digo he por aterrar, não meu Pay (examine se he verdade) he para que Vossa Magestade conheça que tem hum filho, que o deseja livrar dos punhaes dos assassinos que o rodeão. Eu como Imperador, e Vossa Magestade como Rey estamos em guerra, devemos sustentar os Direitos das Independentes Nações de que somos chefes; mas eu como seu filho e V. M. como Pay devemo-nos amar (...) V. M. perdoará o que digo tão francamente, mas este sempre foi he e hade ser o genio d' este que he de V. M. filho affectuoso e que como tal lhe beija a Sua Real Mão
Pedro
Esta carta refere-se ao período da restauração do absolutismo em Portugal por D. Miguel. A 30 de Abril de 1824, o irmão de D. Pedro chefiou um levantamento militar conhecido por Abrilada, sequestrando o próprio pai, o rei D. João VI, no seu palácio, e criando um clima de terror, especialmente em Lisboa, mandando prender algumas centenas de moderados. Após estes acontecimentos, foram tentadas a pacificação e a conciliação da família portuguesa mediante um indulto datado de Junho de 1825 para os crimes políticos. Surgiu depois a carta-patente de 13 de Maio de 1825, reiterada pelo tratado do Rio de Janeiro de 19 de Agosto, ratificado pela carta de lei de 15 de Novembro do mesmo ano, que reconhecia a independência do Brasil e o título de imperador a D. Pedro.