O Romano e o Bárbaro

"Pediste muitas vezes uma descrição de Teodorico (1), o rei godo, cuja gentil educação é elogiada a todas as nações. É um homem que vale a pena conhecer, mesmo por aqueles que não podem desfrutar de uma maior familiaridade. É bem constituído, com o peso acima da média, mas abaixo do gigante. Antes do início do dia ele vai com um pequeno séquito assistir ao serviço dos seus sacerdotes. Reza com assiduidade. As tarefas administrativas do reino ocupam o resto da manhã. Nobres armados estão colocados perto do trono real. Em resumo, podes nele encontrar a elegância da Grécia, a alegria da Gália, a vivacidade italiana, o esplendor dos banquetes públicos com o serviço atencioso da mesa privada, e por todo o lado a disciplina de uma casa real."

Carta de Sidónio Apolinário (2), c. 454

"Como queres que eu faça, conforme me pediste, o hino em honra de Vénus? Pois, se vivo no meio de hordas cabeludas. Não ouço falar senão germânico; aplaudo, com ar sombrio, o que canta o Borguinhão, com os cabelos untados de ranço, no meio da embriaguês... Felizes os teus olhos, os teus ouvidos, o teu nariz, porque todas as manhãs dez grosseirões me invadem com o cheiro do alho e da cebola. Tu não és forçado, como eu, a receber, de madrugada, todos estes gigantes, tão numerosos que não caberiam na cozinha de Alcino."

Carta de Sidónio Apolinário (2), 460

(1) Trata-se do rei Teodorico II, rei dos Visigodos entre 453 e 466.
(2) Caius Sollius Modestus Apollinaris  Sidonius (c. 430-c. 480) era um aristocrata romano que viveu na Gália durante a sua transformação de província romana para propriedade dos reis francos.

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